Ilê Axé Yemanjá Cessu 70 anos de História
10 de janeiro de 2023
Maria José de Barros (apróx. 1960)
O Ilê Axé Yemanjá Cessu carrega em sua trajetória setenta anos de resistência, fé e preservação das tradições afro-brasileiras. Sua história se inicia com Maria José de Barros, nascida em 15 de maio de 1929 no Oiteiro do Alto do Moundú, situado no bairro de Casa Amarela, em Recife (PE). Desde cedo, Maria José, mais tarde conhecida como Dona Zezé do Campo do Onze, Zezé de Cessu ou simplesmente Zezé, esteve profundamente imersa na cultura Iorubá. Criada sob a orientação de seu irmão mais velho, Segi, filho de Xangô Abô, ela foi introduzida aos princípios sagrados da tradição nagô ainda na infância.
A convivência próxima com os ritos e saberes ancestrais despertou em Zezé uma vocação natural para o candomblé, reconhecida ainda em sua juventude pela respeitada mãe de santo Josefína Guedes, do Beco do Cipó, no bairro de Santo Amaro. De origem angolana, Josefína a aconselhou a trilhar seu caminho na nação nagô, um destino que, segundo a tradição, já estava traçado por Olodumare, a força criadora suprema. Seguindo essa orientação espiritual, Zezé consolidou sua formação religiosa e foi iniciada por Oni Xangô (Djumba Bellis) e Turubamba (em memória), este último filho de Zabiato de Humberto Dellagí, ambos nomes de grande peso na tradição nagô de Pernambuco.
Demonstrando uma liderança firme e respeitosa, Zezé fundou, aos 25 anos, em maio de 1955, o Ilê Axé Yemanjá Cessu — Nossa Senhora da Conceição — no Campo do Onze, no bairro de Santo Amaro, Recife-PE. O terreiro rapidamente se tornou um importante centro de fé, acolhendo iniciados e simpatizantes em busca do axé, da proteção e da sabedoria dos orixás. Com o passar dos anos, as mudanças urbanísticas da cidade, especialmente a abertura da Avenida Jaime da Fonte, levaram à necessidade de uma nova sede. Determinada, Dona Zezé idealizou e transferiu o Ilê para a Rua dos Prazeres, no bairro dos Aflitos, onde construiu uma casa matriz cuidadosamente alinhada para o sul, respeitando princípios sagrados herdados dos antigos.
Durante décadas, Dona Zezé foi uma referência viva da cultura nagô, respeitada não apenas pela profundidade de seus conhecimentos, mas também pela força espiritual que emanava de sua liderança. Seu terreiro se firmou como espaço de acolhimento, de preservação de tradições e de resistência frente aos desafios impostos pela intolerância religiosa e pelas transformações sociais.
A trajetória de Maria José de Barros chegou ao fim em 31 de agosto de 2015, mas seu legado permanece vivo. Após sua partida, seus filhos e filhas de santo mais antigos assumiram a missão de dar continuidade à obra sagrada. À frente do Ilê estão o Babalorixá Urunda Oco (Ricardo Barbosa) e a Iyalorixá Omin Acun Landê (Eliza Leal), que mantêm viva a chama acesa por Zezé, reafirmando diariamente os valores de fé, resistência e tradição transmitidos por gerações.
Hoje, o Ilê Axé Yemanjá Cessu segue firme, honrando suas raízes e projetando o futuro. Em seus fundamentos estão a força das águas de Yemanjá, a proteção de Nossa Senhora da Conceição e o axé de todos aqueles que, com fé e coragem, contribuíram e continuam a contribuir para que a história do Cessu seja contada, lembrada e respeitada.
Além de preservar suas tradições, o Ilê também se preocupa em manter a documentação de sua história viva: o endereço atualizado, a marca d’água oficial, a logomarca institucional e fotografias recentes da casa formam parte desse trabalho de memória e valorização.
Assim, o Ilê Axé Yemanjá Cessu celebra não apenas seus 70 anos de existência, mas reafirma seu compromisso eterno com a ancestralidade, com a espiritualidade e com a dignidade do povo de santo.
Antiga Licença de Funcionamento (2006)